Meu sogro conta que quando era pequeno, a venda mais próxima da sua casa ficava pelo menos à uma hora de caminhada distante de casa. O que significava que para ir e voltar contava-se duas horas.
Em um tempo em que a psicologia moderna não dominava as mentes dos pais com a obsessão do trauma, as crianças desempenhavam o papel de quase lacaios na família, sem nenhum drama de consciência.
Quando chegavam de volta da jornada a mãe podia pedir sem nenhum constrangimento: “Esqueci de algumas coisas, meninos. Vocês precisam voltar lá!” E “ai” de quem resmungasse!
Chegando lá, eles ainda precisavam contar com a boa vontade do dono da venda. Muitas vezes, eles eram recebidos de mau humor e o homem fechava as portas sem nenhum motivo que justificasse: “Não vou atender ninguém agora”. E lá ficavam eles esperando que o homem se decidisse atende-los.
Essa cena comum cinquenta anos atrás, hoje seria um suicídio comercial. Os direitos do consumidor dominam a cabeça do cidadão. O que para mim é um passo adiante nas relações comerciais.
O grande problema, é que essa mentalidade consumidora invadiu também o reino da espiritualidade. A relação com a igreja, a comunidade dos que creem em Cristo, tem sido transformada na mente de muitos em uma relação de consumo. Só que onde prevalece relações com a lógica do mercado, inexiste discipulado.
Na Bíblia existem três casos típicos de consumismo descarado:
O primeiro deles é Mica, que contrata um levita para ser seu sacerdote particular. Juízes 17.
O segundo são os nove leprosos que foram curado mas não foram capazes de voltar para agradecer. Lucas 17:11
O terceiro é Simão que tem a cara de pau de querer comprar o dom do Espírito Santo. Atos 8:9-25
Infelizmente, muita gente imperceptivelmente passou de discípulo para consumidor, o que explica a crise da igreja hoje.
Quer saber a diferença? É possível perceber em pelo menos onze aspectos.
- Consumidores pensam no que podem aproveitar dos outros, discípulos pensam no que podem fazer pelos outros.
- Consumidores vão embora assim que algo não atende suas expectativas, discípulos perseveram no que sabem ser a vontade de Deus.
- Consumidores não se envolvem, discípulos participam intensamente.
- Consumidores fazem cobranças, discípulos sugerem mudanças.
- Consumidores são exigentes, discípulos incentivam os outros.
- Consumidores aparecem quando tudo está bem, discípulos estão sempre presentes.
- Consumidores agem como sanguessugas, discípulos aliviam as cargas dos outros.
- Consumidores não se apegam, discípulos estão envolvidos com as pessoas até a medula.
- Consumidores oferecem sobras, discípulos dão o seu melhor.
- Consumidores pensam localmente, discípulos pensam globalmente.
- Consumidores funcionam na base de direitos e deveres, discípulos funcionam na base da graça e da gratidão.
E você onde está?
Um abraço quebra costelas.
O discípulo gaudério.