“O amor é cego, mas o casamento abre os olhos.”
Ditado popular
Calma, calma, calma.
Antes que você me apedreje e atire meu cadáver aos cães permita que eu diga uma última frase: não sou contra o romance, sou contra o romantismo.
Há uma diferença gigantesca.
Romance acredita no final feliz como uma conquista, romantismo acredita na felicidade inevitável.
Romance tem decepção, romantismo tem expectativas realizadas.
Romance tem vilão e herói e frequentemente somos os dois, no romantismo o vilão são os outros, sempre.
Romance tem lutas e batalhas, romantismo tem sentimentos arrebatadores.
Romance faz lutar por dias melhores, no romantismo dias ruins são pesadelos insolúveis.
Quando começamos nossos relacionamentos, uma boa quota do que esperamos é erigida pelos folhetins televisivos e filmes de hollywood tipo “Uma linda mulher” ou qualquer comédia romântica que você costuma assistir para relaxar. O que você não percebe é que por detrás da história há um sentimento enganoso, de que encontraremos o “encaixe perfeito” para nossa vida.
Essa expectativa se mostra frustrada já no primeiro ano do casamento quando os hormônios da paixão cedem espaço a normalidade da vida e a realidade se impõe com seus dias claros e de sol e com seus dias nublados, frios e com chuva.
O luto pela morte da tese do “encaixe perfeito” é um divisor de águas de qualquer relação. Ou crescemos para o amor maduro ou carregamos a amargura da expectativa desfeita como uma quinta coluna que vai quebrar a relação como um cristal frágil.
O que digo sobre o casamento, vale para ministério, trabalho, profissão e tudo o mais.
Venho de uma linhagem pentecostal. Nessa tradição evangélica, um homem com Deus costuma ser visto como um super-homem. Assim é que o imaginário de quem o circunda pensa que ele tem total controle dos seus sentimentos, não pode chorar nem se exceder em nada e nem precisa se abrir com ninguém. Ele tem total vitória sobre o pecado. Sozinho ele vence todas as ambiguidades da sua alma. Ele sempre sabe o que fazer, não precisa perguntar para ninguém a não ser Deus é claro. Soa espiritual, atraente, sedutor? Trágico é quando se acredita nisso, pois é a maior fraude de todos os tempos e faz muitas vítimas! É preciso ler a Bíblia sem esse viés romântico.
Outro dia cheguei na livraria evangélica da minha cidade e uma das vendedoras, membro de igreja evangélica me perguntava sobre o que eu achava da Peppa, personagem do Discovery Kids que se tornou a última fixação das crianças. Eu perguntei a ela: qual o problema com a Peppa?
“Pastor, a Peppa é desobediente, egocêntrica e responde para os pais.”
Eu respondi: “Ah é? Então é melhor proibir seus filhos de lerem as histórias da Bíblia, pois tudo isso está lá também e muito mais!”
Quanto maior o romantismo, mais limitado é o amor. O verdadeiro romance de Deus escrito com letras vermelhas é feito de decadência, traição, fanfarronice e glória, morte e redenção. Quem ama no amor de Deus, ama para além das expectativas frustradas. Essa é a história da cruz, essa é a nossa história.
Um abraço quebra costelas.
O discípulo gaudério.