Procura-se um pai…
Aquelas três adolescentes na praça Coronel Pedro Osório, disputando um cigarro de maconha em plena luz do dia como quem divide um chocolate.
O super realizador, que não se satisfaz com resultados extraordinários nem com a admiração dos seus pares e os puxa-sacos de plantão.
O menino brigão, que não tolera a mínima frustração e que mantém a ditadura do medo sobre todos ao seu redor.
O bêbado que olha para o próximo martelo de cachaça como quem busca na multidão um rosto conhecido.
A criança livre no meio da rua, que conversa com cada caminhante como se fosse um velho conhecido.
A mulher que estudou os homens para devorá-los, que pesa cada palavra, calcula cada detalhe do visual em busca de um certo olhar que faltou.
O artista extraordinário, que no fim da apresentação olha a platéia irrompendo em aplauso efusivo sem se contentar, pois procura no rosto de todos o olhar de um só.
A guria da balada que rodopia a noite inteira a beber vida dos beijos de tantos homens diferentes sem nunca se saciar.
O funcionário que chora desesperadamente a orfandade da demissão impiedosa.
O menino vassalo das ordens do dono da boca de fumo que imagina ser o súdito orgulhoso do rei.
Procura-se um pai para que a vida tenha sentido, raiz, e ponto final.
Um abraço quebra costelas.
O discípulo gaudério.