“Como é que vocês não entendem que não era de pão que eu estava lhes falando? Tomem cuidado com o fermento dos fariseus e dos saduceus. Então entenderam que não estava lhes dizendo que tomassem cuidado com o fermento de pão, mas com o ensino dos fariseus e dos saduceus. ”
Mateus 16:11,12
“Não é estranho que pastores cuja responsabilidade é interpretar as Escrituras tenham tão pouco interesse em poesia?”
Eugene Peterson
Ano passado nos reunimos para um encontro de dança e música com jovens de diversas denominações.
Era o responsável de dar a boas vindas:
– Gente, uma alegria poder receber vocês nesta arca de Noé. Aqui definitivamente temos todos os bichos.
Claro que me referia a diversidade que ali existia.
No mesmo instante alguém resmungou em tom suficientemente alto para ser ouvido por todos:
– É impressão minha ou ele nos chamou de bicho? Eu não sou bicho coisa nenhuma!
Bang! Bang! Bang! Mais um evangélico derrubado pela metáfora.
Parece que nosso povo, só lê o Levítico na Bíblia. Descrições minuciosas, precisas e concretas.
Não sou adepto do relativismo, mas a verdade é caleidoscópica. Rica, ampla. A verdade é, mas tem muitas cores e matizes.
Esse jeito de ser nos leva para grandes batalhas com questiúnculas sem importância. Observe quantas igrejas divididas por detalhes de palavras e rituais:
Data do Natal e da Páscoa. Qual a importância disso? Se fosse importante, a Palavra deixaria bem claro a data.
A árvore do Natal. Pode até ser que ela tenha origem pagã, mas hoje seu significado mudou. Ela é uma forma cultural de celebrar o Natal. A cristandade não será perdida porque tem crente que monta a árvore!
A forma do batismo. Imersão ou aspersão. Quem lendo os evangelhos pode achar que essa é uma questão fundamental?
Dois tipos de pessoas tropeçam na metáfora. O fariseu e os meninos espirituais. A criança porque ainda não foi educada, precisa tempo e maturidade. O fariseu porque insiste em olhar só aparência. Entende só o que é dito, não quer entender o que se quer dizer.
A letra da lei se presta ao espírito advocatício do fariseu que não procura a justiça do Reino, mas a brecha da lei que possa lhe beneficiar. O discípulo é ligado no “espírito” da Palavra, cujo discernimento foi prometido por Jesus: o Espírito guiará vocês a verdade.
A Bíblia não tem linguagem científica, porque seu objetivo é relacionamento entre Deus e os homens. E dois seres pessoais entram em relacionamento profundo através de imagens, histórias e palavras compartilhadas.
Jesus, navegava com liberalidade nas imagens que evocam emoções e espírito. Ele chama sua proposta de vida de “Reino”. Vai mais fundo ainda e usa a semente de mostarda, a rede de pesca, o fermento e o tesouro escondido como expressões da realidade do Reino.
As metáforas marcam a mente e aquecem o coração. Elas são tão poderosas que nos carregam em tempos difíceis, nos consolam a alma. Nada impactou mais o meu coração amedrontado do que a pregação simples: “o poder do diabo é uma gota no oceano de Deus!”
As metáforas tornam as verdades de Deus acessíveis aos simples e inspiradoras aos mais educados na mente. Aceitar a alegoria é enxergar o coração das questões e não só a casca, o que se quer dizer, não apenas o que é dito.
Se a mente do discípulo não se expande ele jamais avançará em sua caminhada. Não se trata de substituir os fundamentos, mas construir sobre eles. Antes de crescer para fora é preciso crescer para dentro.
Eu mesmo já determinei, que não falarei qualquer verdade sem uma boa metáfora. A vida sem ela é pesada, preto e branco, sem doçura.
Assim fica claro porque a boca de Jesus derramou-se em símiles e parábolas: ele pretende que sejamos descingidos de toda malícia, falsa complexidade e cheios de criatividade para o bem.
Um abraço quebra costelas.
O discípulo gaudério.